quarta-feira, 27 de maio de 2009

-Não julguє minha aparência, vai se decepcionar em saber quє sou muito mais do que seus olhos são capazes de veer. Por dentro umα personαlidade minhα, por forα um conceito seu.    •.Quem sou eu? - você realmente se importa ?!

segunda-feira, 18 de maio de 2009





A PINTURA BARROCA RETRATA A IMAGEM MAIS ESCURA..



quarta-feira, 13 de maio de 2009

Martinho da Vila

Brazil mulato


Pretinha, procure um branco
Porque é hora de completa integração
Branquinha, namore um preto
Faça com ele a sua miscigenação
Neguinho, vá pra escola
Ame esta terra
Esqueça a guerra
E abrace o samba
Que será lindo o meu Brasil de amanhã
Mulato forte, pulso firme e mente sã
Quero ver madame na escola de samba
sambando
Quero ver fraternidade
Todo mundo se ajudando
Não quero ninguém paradoTodo mundo trabalhando
Que ninguém vá a macumba fazer feitiçaria
Vá rezando minha gente a oração de todo dia
Mentalidade vai mudar de fato
O meu Brasil então será mulato

quarta-feira, 29 de abril de 2009

V.S PREFEITO ROBERIO OLIVEIRA

VENHO ATRAVEZ DESTA CARTA EXPOR ALGUNS PROBLEMAS QUE ESTÃO OCORRENDO NO MUNICIPIO DE EUNAPOLIS QUE HÁ APROXIMADAMENTE 110MIL HABITANTES QUE PRESCISAM:

SAÚDE: que está precaria pois as pessoas nos postos de saúde está faltando medicamentos e a falta de medicos é grande,o atendimento é péssimo não sabem atender as pessoas e as pessoas falecendo nas filas dos postos de saúde.
A EDUCAÇÃO: está cada vez pior pois a falta de professores é grande pois não existe professores capacitados para darem aulas e com isso quem sofre são os alunos.
O DESEEMPREGO: a falta de emprego em eunápolis é grande pois as empresas estão demitindo os empregados e dando uma desculpa de que é corte de empregado.
O SANEAMENTO BÁSICO: está péssimo pois tem vários lixos e esgotos a céu aberto.E o que pode ser feito senhor Roberio Oliveira para que com isso acabe?
A nossa cidade está precária pois o prefeito não está nem ai para os cidadãos de Eunápolis.
POLICIAIS DE EUNÁPOLIS: os serviços de policionamento em eunápolis está péssimo pois as viaturas encontram se paradas pois a falta de combustivél é grande para que eles possam fazer a ronda nos bairros de Eunápolis.

ANÁLISE DO TEXTO O GIGOLO DAS PALAVRAS DE LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO

Observa-se que Veríssimo age ironicamente ao afirmar que com a sua escrita comete “afronta às leis da língua”. O que o cronista deseja expressar através da sua fala é que tais “afrontas”, ou seja, os desvios à norma culta, constituem um traço estilístico e não um erro gramatical. Isso se explica pelo fato de Veríssimo ser um escritor renomado e, portanto, conhecedor das regras gramaticais. Suas “afrontas” funcionam como ferramentas, através das quais pode-se comprovar que ele consegue escrever, sem portanto, fazer uso correto das regras gramaticais, além de obter êxito na transmissão da mensagem dirigida ao leitor. Logo, seus desvios são intencionais, utilizados como estratégias discursivas, visando obter maior expressividade. Esse desvio intencional pode ser exemplificado no seguinte excerto: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer escrever claro não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar.” Com este fragmento do texto em questão é possível notar que Veríssimo é conhecedor das normas gramaticais, porém optou neste caso pela expressividade. Desse modo, compreende-se que o uso das normas gramaticais é importante, mas não essencial, e a Estilística, ligada à parte emotiva, em muito contribui à parte intelectiva da língua.
O texto, portanto, revela, através do discurso do personagem narrador, o
conflito entre duas formações discursivas, e demonstra que se pode perceber sempre, numa
formação discursiva, a presença do outro e a heterogeneidade do discurso. O autor se
conduz de tal forma na construção do personagem narrador, que este, ora expõe através de
sua enunciação uma formação, ora outra, no espaço interdiscursivo.

No primeiro parágrafo da crônica, o sujeito narrador utiliza-se daquilo que
Charaudeau chama de estratégia de credibilidade, ou seja, determina uma posição de
verdade, de maneira que ele possa ser levado a sério. A credibilidade vai sendo construída
pelo uso de expressões literais como: “Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do
Farroupilha estiveram lá em casa, numa mesma missão...”
A partir do segundo parágrafo, o sujeito locutor constrói uma argumentação
representativa da formação discursiva que não vê utilidade no ensino da gramática em sala
de aula. Através da frase: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”, o
locutor justifica a assertiva feita anteriormente: “A sintaxe é uma questão de uso, não de
princípios”. Ao utilizar o adjetivo claro modificando o verbo em vez de utilizar o advérbio
(claramente), como estaria ao gosto dos gramáticos, o autor quer demonstrar que conseguiu
se comunicar, apesar de não ter feito uso “correto” da norma gramatical.
A estratégia de sedução que o sujeito locutor utiliza inicia-se com a assertiva:
“O importante é comunicar”, logo após elabora metaforicamente a idéia do fazer literário
como algo que surpreende, ilumina, diverte e comove.
O final do segundo parágrafo é marcado por uma ironia mordaz. A estratégia de
convencimento se faz com o autor relacionando as razões para não se ensinar gramática e
associando-a à morte da língua. Utiliza-se para isso das seguintes expressões: “A
gramática é o esqueleto da língua”, “línguas mortas”, “necrólogos”, “gente pouco
comunicativa”, “sombria gravidade”, “reprovação pelo Português ainda estar vivo”,
“morra”, “caixão”, “autópsia”, “as múmias conversam entre si em gramática pura”.
Nos dois últimos parágrafos, o autor dá o tom irônico ao se apropriar do
discurso machista que se inicia com a frase: “Sou um gigolô das palavras”. O sujeito
locutor constitui seu discurso por analogia à relação do cafetão com a prostituta. Utiliza-se
de expressões que revelam sua intimidade e liberdade no trabalho com a palavra: “Um
escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse por seu plantel.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Alunos x professores x família



Venho através desta carta expor o que esta se passando com o ensino,a saúde como um todo no Brasil e no nosso município chamado Eunápolis.o Brasil tornaram-se comuns publicações de ‘besteiras da juventude’que são colhidas nas redações dos vestibulares,unem professores e jornalistas na critica fácil a expressão ou a desexpressão é uma mistura de desespero com expressão,de uma geração calada que mesmo quando parece falar nestas redações continua calada.
Não pretendo começar por ai, estes bestialógicos visam mostrar como a juventude articula mal o pensamento, mais mostrar a própria juventude, para cada um dos seus elementos rirem nervosamente de si mesmo, qual hiena inconsciente.
Estes bestialógicos, então funcionam de cortina para encobrir outros agentes da depressão: a escola, os professores, a família, o estado. A escola que fragmentou o conhecimento em disciplinas estanques, fragmentando assim as frases e o raciocínio dos seus alunos.
Os professores mal pagos e pior estimulados,mal sabendo eles mesmos redigir um plano de curso,pondo se como exemplo tristemente adequados de uma fala truncada. A família que não Le nada e escreve nada de nada e depois reclama cinicamente da juventude que não Le.
O estado que encosta a educação no canto das verbas,censura as poucas palavras que escapolem das universidades e dos artistas e depois faz ironias covardes sobre a geração da gíria.
A desarticulação do pensamento adolescente vem sendo apresentada como doença em si,encobrindo males mais profundo,um exemplo é a questão do analfabetismo nacional se lemos com cuidado e atenção não apenas as redações escolares dos garotos mais também os livros didáticos adotados,mais os editorias dos grandes e dos pequenos jornais mais os discursos dos pequenos e dos grandes políticos,mais a constituição do país e as teses dos juízes e dos doutores.
Semelhante constatação alivia os estudantes, eles podem compreender que sua confusão aumenta a sua responsabilidade dos que desejam defender o seu prazer de pensar e descobrir por sobre a neurose de dominar e vencer os estudantes inclusive. A falar na vida,assim como o calar quem cala não consente,quem cala ou guarda suas idéias.Se aprendemos a falar e a calar na vida muito aprendemos a escrever em uma redução da vida ‘chamada sala de aula’.

Nainy Muniz santos
23/04/2009
13:34

terça-feira, 14 de abril de 2009

RASISMO:NÃO TÁ COM NADA


Racismo não entendo onde um mundo com tanta evolução possa existir pessoas que tenham a mente tão pobre,ao ponto de pensarem que a cor resolva alguma coisa.
Seria tão simples, se todas pensarem de maneira diferente onde todas as pessoas pudessem ser julgadas pelo caráter, e não pela cor de sua pele.
Na verdade o racismo não se refere só pela cor da pele esta sendo generalizado de uma forma completa, onde as pessoas estão sendo massacradas desde a cor ate o sexo.
A sociedade, ou seja, a classe alta abrange uma característica muito negativa, ela exige muito e isso dificulta em muitos casos desde a cor da pele ate mesmo a sua escolha sexual.
Deveríamos ter a consciência do que esta em jogo: a fome, drogas doenças e guerras... E não disputas em pódios entre brancos e negros.
A sociedade juntamente com os governantes deveria ter a consciência de acabar com a diferença entre brancos e negros, ou seja, racismo não ta com nada.
O negro de certa forma vem sendo classificado em muitos pontos, exceto do primeiro presidente negro, em um país onde grande parte da população é racista isso foi extraordinário.
Isso deixou bem claro que não devemos julgar as pessoas pela cor da pele e sim pelo caráter que ela exerce.

OS OLHOS DE CAPITU



Fontes, influências, analogias, aproximações. Seja o que for, Machado tem resistido ao teste de originalidade com que a Literatura Comparada o põe em confronto direto com alguns clássicos ingleses e franceses.
Um bom escritor deflagra outro, o processo de criação literária é coletivo, por mais individual e isolado que pareça. Ainda assim, a busca de aproximações mantém o seu fascínio. Por acaso encontrei em Thomas Hardy uma dessas influências não localizadas até aqui pelos machadianos. Ela está em The Return of the Native, primeiro dos quatro romances trágicos de Hardy, e se refere a olhos.
O romance hardyano data de 1878. Machado o teria lido ? É provável. Dom Casmurro vem a lume em 1899, pela casa Garnier, que o manda imprimir em Paris. A impressão fica pronta em dezembro daquele ano, mas as primeiras cópias somente chegam às mãos do romancista em fevereiro de 1900. As duas heroínas, Eustacia Vye e Capitu, têm destino trágico — a primeira, afogada numa represa com o amante, em noite tempestuosa, quando tentavam fugir de Egdon Heath; a segunda, morta no exílio forçado da Suíça, ali enclausurada pelo ciumento marido Bento Santiago. Ambas, deusas de beleza e feiticeiras, evoluem no entanto em sentido inverso: à medida que Eustacia cresce no amor dos homens, Capitu se transforma aos olhos de Bento, e segundo o testemunho único deste, em visão da infidelidade adulterina.
As duas seduziam principalmente pelo olhar. Eustacia era "capaz de dormir sem fechar os olhos" (capable of sleeping without closing them up), que eram de um "azul profundo". Diz o romancista que "ela tinha olhos pagãos, cheios de mistérios noturnais, e a luz que irradiavam era em parte tolhida no seu fluxo e refluxo por sobrancelhas e cílios bastos". (She had Pagan eyes, full of nocturnal mysteries, and their light, as it came and went, was partially hampered by their oppressive pids and lashes).
A heroína de Hardy também tinha "olhos tempestuosos": "Eustacia levantou uma vez mais os profundos olhos tempestuosos para o luar e, soltando aquele trágico suspiro que tanto se assemelhava a um estremecimento..."(Eustacia once more lifted her deep stormy eyes to the moonlight, and sighing that tragic sighing of hers which was so much like a shudder...").
Olhos tempestuosos, olhos de ressaca... Os de Capitu, indicados ao adolescente Bentinho pelo agregado José Dias, o homem dos superlativos, são "claros e grandes", são "pupilas vagas e surdas". Para o agregado, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada"; para Bentinho, "olhos de ressaca, com uma força que arrastava para dentro". Mais adiante, quando já desconfia de Capitu com o seu amigo Escobar, Bento Santiago vê nos olhos da mulher a traiçoeira maré definitivamente má.
Escritor afeito aos mitos gregos, como Thomas Hardy, Machado com certeza tem conhecimento de que "Vênus nasceu do mar", conforme a observação de Helen Caldwell. "Para Santiago", ela diz, "a maré nos olhos de Capitu era uma projeção do seu impulso sexual adolescente, que o assustava". Um mar traiçoeiro que ameaçava arrebatar Bentinho e afogá-lo nos seus pélagos... Outra não será a tragicidade embebida nos olhos de Eustacia, em Thomas Hardy. O triângulo amoroso do romance machadiano — Capitu, seu marido Bento e o comborço Escobar — reúne no romance hardyano Eustacia, seu marido Clym Yeobright e o taverneiro Wildeve. Não apenas os olhos de Eustacia, mas todo o feitiço de sua figura pagã atraem Wildeve à represa, onde eles morrem afogados. No romance de Machado, Escobar, considerado bom nadador, morre afogado, de maneira inexplicável e sem maiores informações do narrador Bento Santiago; e Capitu, que não consegue mais, por obra da suposta infidelidade, cativar o marido, naufraga sozinha, no seu desterro na Suíça.
Tolhido pelas convenções sociais e por sua timidez, no Brasil fortemente católico e acanhado dos primórdios da República, Machado de Assis dissimula a sensualidade; ela escorre subterrânea em seus romances e contos. Hardy, que teve um primeiro casamento infeliz, reagiu aos preconceitos vitorianos. Sue Bridehead, de Judas, o Obscuro, antecipa na mulher moderna a luta pela liberdade no amor.








quarta-feira, 25 de março de 2009

A CARTOMANTE DO MACHADO DE ASSIS

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Este conto foi publicado originalmente na Gazeta de Notícias - Rio de Janeiro, em 1884. Posteriormente foi incluído no livro "Várias Histórias" e em "Contos: Uma Antologia", Companhia das Letras - São Paulo, 1998, de onde foi extraído. Com esta publicação homenageamos Machado de Assis que, no dia 21 deste, estaria completando seu 172° aniversário.