quarta-feira, 29 de abril de 2009

ANÁLISE DO TEXTO O GIGOLO DAS PALAVRAS DE LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO

Observa-se que Veríssimo age ironicamente ao afirmar que com a sua escrita comete “afronta às leis da língua”. O que o cronista deseja expressar através da sua fala é que tais “afrontas”, ou seja, os desvios à norma culta, constituem um traço estilístico e não um erro gramatical. Isso se explica pelo fato de Veríssimo ser um escritor renomado e, portanto, conhecedor das regras gramaticais. Suas “afrontas” funcionam como ferramentas, através das quais pode-se comprovar que ele consegue escrever, sem portanto, fazer uso correto das regras gramaticais, além de obter êxito na transmissão da mensagem dirigida ao leitor. Logo, seus desvios são intencionais, utilizados como estratégias discursivas, visando obter maior expressividade. Esse desvio intencional pode ser exemplificado no seguinte excerto: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer escrever claro não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar.” Com este fragmento do texto em questão é possível notar que Veríssimo é conhecedor das normas gramaticais, porém optou neste caso pela expressividade. Desse modo, compreende-se que o uso das normas gramaticais é importante, mas não essencial, e a Estilística, ligada à parte emotiva, em muito contribui à parte intelectiva da língua.
O texto, portanto, revela, através do discurso do personagem narrador, o
conflito entre duas formações discursivas, e demonstra que se pode perceber sempre, numa
formação discursiva, a presença do outro e a heterogeneidade do discurso. O autor se
conduz de tal forma na construção do personagem narrador, que este, ora expõe através de
sua enunciação uma formação, ora outra, no espaço interdiscursivo.

No primeiro parágrafo da crônica, o sujeito narrador utiliza-se daquilo que
Charaudeau chama de estratégia de credibilidade, ou seja, determina uma posição de
verdade, de maneira que ele possa ser levado a sério. A credibilidade vai sendo construída
pelo uso de expressões literais como: “Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do
Farroupilha estiveram lá em casa, numa mesma missão...”
A partir do segundo parágrafo, o sujeito locutor constrói uma argumentação
representativa da formação discursiva que não vê utilidade no ensino da gramática em sala
de aula. Através da frase: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”, o
locutor justifica a assertiva feita anteriormente: “A sintaxe é uma questão de uso, não de
princípios”. Ao utilizar o adjetivo claro modificando o verbo em vez de utilizar o advérbio
(claramente), como estaria ao gosto dos gramáticos, o autor quer demonstrar que conseguiu
se comunicar, apesar de não ter feito uso “correto” da norma gramatical.
A estratégia de sedução que o sujeito locutor utiliza inicia-se com a assertiva:
“O importante é comunicar”, logo após elabora metaforicamente a idéia do fazer literário
como algo que surpreende, ilumina, diverte e comove.
O final do segundo parágrafo é marcado por uma ironia mordaz. A estratégia de
convencimento se faz com o autor relacionando as razões para não se ensinar gramática e
associando-a à morte da língua. Utiliza-se para isso das seguintes expressões: “A
gramática é o esqueleto da língua”, “línguas mortas”, “necrólogos”, “gente pouco
comunicativa”, “sombria gravidade”, “reprovação pelo Português ainda estar vivo”,
“morra”, “caixão”, “autópsia”, “as múmias conversam entre si em gramática pura”.
Nos dois últimos parágrafos, o autor dá o tom irônico ao se apropriar do
discurso machista que se inicia com a frase: “Sou um gigolô das palavras”. O sujeito
locutor constitui seu discurso por analogia à relação do cafetão com a prostituta. Utiliza-se
de expressões que revelam sua intimidade e liberdade no trabalho com a palavra: “Um
escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse por seu plantel.

2 comentários:

A arte literária disse...

o texto o gigolo das palavras é um texto que vem expondo os seu ponto de vista.

Felippe Serpa disse...

poxa, nayne. e eu precisando realmente de alguém q tivesse uma outra análise diferente daquela q ja conheço de luft! valeu pela análise boa! obrigado pelo presente! bjim.